sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Acne

A acne trata-se de uma doença muito frequente (80 a 85% da população) que acomete o funcionamento do folículo pilossebáceo (glândula sebácea e canal folicular) caracterizada por pápulas foliculares não inflamatórias ou comedões e por pápulas inflamatórias, pústulas e nódulos.
As áreas mais afetadas são normalmente o rosto e porção superior de tórax e rosto, por serem regiões de maior densidade de folículos pilossebáceos. Como qualquer patologia que afeta uma área tao exposta como é o rosto, a acne pode ter um forte impacto social, por condicionar a auto-estima do seu portador, propiciando frequentemente situações de isolamento e depressão.

Fatores etiopatogênicos da acne:
  1. Hipersecreção sebácea;
  2. Hiperqueratinização do infundíbulo folicular, condicionando obstrução do canal e consequente acúmulo de lípidos, bactérias e fragmentos celulares;
  3. Colonização pelo Propioniumbacterium acnes (P.acnes);
  4. Resposta inflamatória com rotura da parede folicular, libertação de lípidos e restos bacterianos.

Lesões de acne:
  • Não inflamatórias: Comedões podem ser abertos (“pontos negros” devido à dilatação do poro e exposição do conteúdo ao exterior, que sofre oxidação) ou fechados (“pontos brancos”). São consequência da hiperqueratinização e retenção no folículo pilo-sebáceo. O microcomedão é a lesão precursora das outras lesões de acne.
  • Inflamatórias: Pápulas – O comedão fica rodeado por edema e eritema.  Lesão de pequena dimensão menor que 3mm denomina-se pápula. Quando há inflamação da pápula e o seu conteúdo é purulento a lesão denomina-se por pústula (“borbulha”). Com o aumento da dimensão surge o nódulo, que pode chegar a atingir 2cm. Numa forma mais grave pode surgir o quisto, resultado de várias ruturas e encapsulações. Este último é globoso, tenso, saliente com um conteúdo pastoso.
  • Cicatrizes: Apresentam-se sobre a forma de uma depressão irregular coberta por pele atrófica, resultante da destruição folículo pilo-sebáceo decorrente da reação inflamatória.
O tipo de acne é definido em função do predomínio das lesões. Existem 3 tipos de acne: comedonica, pápulo-pustulosa e nódulo-quística.

Fatores agravantes da acne:
  • Influência da dieta na acne: Embora ainda não esteja perfeitamente comprovado o impacto da dieta na acne, e sendo até o mesmo frequentemente desvalorizado, parece ser importante ressaltar algumas situações. Alguns estudos sugerem que a ingestão de alimentos com elevado valor glicêmico, por conduzirem a hiperinsulinemia, podem estar implicados na patogênese da acne, ao desencadear vários fenômenos endócrinos que estão na base da mesma.  Foi ainda observada associação positiva entre o consumo de leite e derivados com o desenvolvimento da acne.
  • Relação com a menstruação: Pode ocorrer um aumento da das lesões de acne no período menstrual uma vez que dois dias antes do seu início o diâmetro de abertura do folículo diminui, contribuindo para a redução do fluxo de sebo para o exterior.
  • Existe uma forte relação entre o stress e a acne, possivelmente pelas alterações neuroendocrinas que ocorrem em situações de stress.
  • A exposição solar aparentemente melhora a acne, por haver espessamento epidérmico e pelo bronzeamento, as lesões são disfarçadas mas pós exposição há tendência a “rebot” com agravamento da acne.

Terapêutica da acne
  • Retinóides tópicos são indicados para acne leve a moderada. Estes inibem a formação de comedões através da normalização da descamação do epitélio infundibular, e das suas propriedades anti-inflamatórias.  Por risco de serem teratogénicos o uso de retinóides está desaconselhado em grávidas.
  • Bactericidas tópicos são indicados para uma acne leve e moderada, tendo como objetivo a neutralização do P.acnes e diminuição da inflamação.
  1. Clindamicina e Eritromicina são antibióticos tópicos, cujo seu uso acarreta o risco de desenvolvimento de resistência bacteriana;
  2. Peróxido de benzoilo é um antimicrobiano, não antibiótico, com ligeira atividade comedolítica. Pode causar dermatites de contacto, bem como descoloração da roupa e cabelo. Disponível em líquidos de limpeza, gel e creme em concentrações de 5 a 10%;
  3. Peelings químicos como o ácido azeláico e o ácido salicílico são bactericidas sem serem antibióticos e normalizam a queratinização do canal folicular;
  4. Luz intensa pulsada;
  5. Alta frequência.
  • Antibióticos sistêmicos e isotretinoína oral estão mais indicados na acne nódulo-quística.
  • Terapêutica hormonal atua de modo reduzir o efeito dos androgênios na unidade pilo-sebácea.

Atendendo que a acne tem uma etiologia multifatorial o ideal é fazer uma combinação de terapêuticas a fim de atingir melhores resultados. Por exemplo, associar numa terapia de primeira linha retinaldeído tópico com um anti-microbiano não antibiótico como o ácido azeláico ou o peróxido de benzoilo. E uma terapêutica de manutenção para impedir recidivas.
A terapêutica de manutenção é fundamental em todos os tipos de acne e poderá incluir:
  • Peelings químicos;
  • Esfoliação mecânica (acne não inflamatória);
  • Máscaras com princípios ativos desintoxicantes (argila verde, diatomáceas, entre outros ativos);
  • Extração cuidadosa dos microcomedões por se tratarem da lesão percursora das lesões inflamatórias;
  • Cosmética adaptada – estes devem funcionar como coadjuvantes do tratamento. Devendo incluir:
  1. Produtos de higienização sem sabão com ação antiséptica  e seborreguladora
  2. Emulsões com moderado efeito queratolítico (AHA e BHA), antibacteriano e seborregulador.
  3. Maquilhagem de camuflagem desde que indique “não comedogênico”.Proteção solar oil-free.
  • Numa fase cicatricial as opções terapêuticas passam por peelings químicos e dermoabrasão.

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