Os profissionais que trabalham na área de saúde encontram patologias relacionadas à coluna com muita frequência. É bastante difícil passar muito tempo sem ver um aluno que tem dor nas costas.
Estima-se que pelo menos 18% da população apresente algum tipo de cervicalgia ao longo da vida. De acordo com estudos, a cervicalgia tem prevalência de 10% a 15% na população geral.
Isso quer dizer que você provavelmente lidará com alguns pacientes que sofram de alguma patologia de cervical em sua profissão, provavelmente muitos deles.
Entre esses problemas está a hérnia de disco, que é um problema que leva muitos a procurarem uma atividade de reabilitação. O disco intervertebral fica extremamente prejudicado em casos de hérnia, por isso precisamos compreender muito bem sua estrutura e como trabalhar com ele.
Neste texto vamos falar sobre o disco intervertebral de maneira detalhada. Explicarei sua anatomia, a biomecânica aplicada a coluna e os padrões fundamentais de movimento.
Causas da cervicalgia
A cervicalgia é caracterizada por dor na região da cervical. A maioria dos casos não apresenta causa aparente, o que não quer dizer que eles surgem do nada. A patologia pode estar relacionada a movimentos bruscos, traumas e lesões e outros desequilíbrios.
Pessoas que apresentam fadiga nas musculaturas estabilizadoras da coluna também podem desenvolver cervicalgia. Essa fadiga geralmente acontece devido a esforço repetitivo ou intenso.
Quem sofre de cervicalgia costuma sentir um alívio da dor quando fica em posição de repouso, e aumento durante o movimento.
Apesar de ser uma patologia comum, sempre é bom lembrar que cada paciente tem sua característica própria. Os padrões de dor costumam variar e pode ser somente na face posterior do pescoço, acometer um dos lados do músculo do trapézio, romboide, escaleno ou supraespinhoso.
A maior parte dos pacientes busca uma atividade de reabilitação, como o Pilates, quando a dor começa a incomodar. Essa dor não é contínua, geralmente ela aparece quando se coloca uma carga excessiva sobre a região afetada.
Anatomia da cervical
Antes de começar a falar sobre o disco intervertebral, é bom revisar um pouco a anatomia da cervical.
O disco intervertebral está localizado entre os corpos de todas as vértebras da coluna vertebral. É composto de um núcleo pulposo e anel fibroso no seu revestimento.
Também existem partes que servem de proteção para o disco. As seguintes partes são as responsáveis por isso:
Ligamentos longitudinal anteriores;
Ligamentos esternocostal intra-articulares;
Ligamento radiado;
Ligamento costotransversal superior;
Ligamento costotransversal lateral
Ligamento intertransversal.
Os ligamentos responsáveis pela proteção estão representados na imagem abaixo:
Além dos ligamentos, existem alguns músculos profundos do tronco que irão proteger os discos. Alguns deles são:
Interespinhais;
Intertransversários na região posterior da coluna.
Músculos profundos na coluna vertebral também auxiliam na tarefa, no entanto eles não têm ação especifica nos movimentos entre as vértebras e sim na ação dos movimentos promovidos pelo conjunto de vértebras da coluna. Eles estão envolvidos em ações como flexão, extensão, rotação. Exemplos deles são:
Semi-espinhais;
Multifidos,
Longuíssimo.
Observe a figura acima que ilustra a vista posterior dos músculos profundos do tronco:
A parte anterior da coluna é a mais protegida, temos o ligamento longitudinal fazendo a proteção do disco e músculos, que irão se inserir nas vértebras gerando tensão sobre as mesmas.
Como podemos observar, a região anterior das vértebras possui um ligamento muito forte que forma uma parede na região anterior, o ligamento longitudinal, e irá resistir aos movimentos das vértebras.
Logo, será mais difícil ocorrer lesões na região anterior das vértebras, o disco se encontra muito protegido, evitando assim, hérnia discal na região anterior.
A região posterior também possui ligamentos e músculos com a função de proteger o disco. Mas, diferentemente da parte anterior, ela é bem mais vulnerável. As partes responsáveis por sua proteção formam digamos que uma teia, um contraste com a região anterior que possui uma parede forte.
Essa teia irá limitar alguns movimentos e permitir outros entre as vértebras através dos músculos profundos do tronco, os músculos intervertebrais.
Todos estes movimentos realizados na coluna terão ação sobre os discos intervertebrais. Mas que movimentos são esses?
Movimentos da Coluna
A coluna realiza movimentos como flexão, extensão, rotação e flexão lateral. As vértebras participam destes movimentos a partir da ação de micromovimentos que irão resultar na movimentação da coluna cervical, torácica e lombar.
Caso estes micromovimentos não ocorram da forma correta, podemos ter compensações de movimento feitas por outras regiões. O que pode ocorrer é uma determinada vértebra apresentar boa mobilidade e em contrapartida a vértebra acima ou abaixo apresentar hipomobilidade.
Ao longo da coluna podemos encontrar vértebras com hipomobilidade e hipermobilidade que interferem muito na qualidade de movimento e geram problemas na cervical.
Para isso podemos avaliar cada vértebra baseados nos conceitos de terapia manual, realizando a palpação de uma a uma durante os movimentos de flexão, extensão, rotação e flexão lateral.
Podemos ainda avaliar movimentos acessórios que ocorrem entre as vértebras, como os deslizamentos ântero-posterior, deslizamentos craniais, deslizamentos caudais, rotação, inclinação lateral.
A avaliação destes movimentos poderá também ser utilizada como tratamento para melhora da mobilidade desta vértebra.
Mas por que estes movimentos são importantes no cuidado com o Disco Intervertebral?
O disco intervertebral precisa de espaço articular para se manter hidratado e assim absorver impactos e permitir movimento à coluna. Para isso, é necessário que exista qualidade da mecânica do movimento que ocorre entre as vértebras.
Vejamos um exemplo:
Ao realizar a flexão da coluna lombar o movimento deve ocorrer em todas as vértebras. Se a vértebra L3 estiver hipomóvel e L2 hipermóvel ocorrerá muito mais movimento em L2 gerando maior pressão sobre o disco entre L2-L3. A região onde isso ocorre torna-se uma região mais propícia para o surgimento de uma hérnia de disco.
Biomecânica do Movimento
Flexão
Durante o movimento de flexão a vértebra desliza no sentido posterior e o processo espinhoso no sentido cranial, gerando maior pressão na região anterior do disco e permitindo maior espaço na região posterior do disco.
Extensão
Durante o movimento de extensão a vértebra desliza no sentido anterior e o processo espinhoso no sentido caudal, gerando maior pressão na região posterior do disco e maior espaço na região anterior.
Rotação
Durante o movimento de rotação ocorre deslizamento nos processos transversos da vértebra e deve-se preservar o espaço articular, preservando o disco intervertebral.
Flexão Lateral
Durante o movimento de flexão lateral ocorre inclinação homolateral da vértebra no sentido caudal e inclinação contralateral da vértebra no sentido cranial, gerando maior pressão no disco na região lateral homolateral da inclinação e maior espaço na região da inclinação contralateral.
Durante esses movimentos os músculos menores e mais profundos, como intervertebrais e interespinhais, irão permitir o movimento entre as vértebras e os músculos maiores irão permitir o movimento combinado das vértebras.
Os músculos maiores que se inserem nas vértebras poderão estar tensos e/ou encurtados fazendo com que durante o movimento ocorra tração na vértebra impedindo que o movimento ocorra nela. O movimento também pode acontecer com maior amplitude que a desejada gerando maior pressão e impacto sobre o disco intervertebral.
E qual a função do Disco Intervertebral?
É o disco Intervertebral que permite a flexibilidade da coluna, assim como nas demais articulações do corpo que possuem líquido sinovial.
O disco é uma estrutura do tipo sinovial que permite movimento entre as vértebras. Além disso, ele tem a função de suportar cargas e absorver impacto protegendo as estruturas ósseas envolvidas no movimento.
A coluna vertebral é fortemente afetada pelas posições que o indivíduo adota. Algumas delas aumentam bastante a probabilidade de surgir uma lesão.
Observe a imagem abaixo que ilustra o impacto das posições sobre a coluna vertebral e o disco intervertebral para entender melhor:
Como podemos observar, o posicionamento adequado irá auxiliar na prevenção de lesões da coluna vertebral e do disco intervertebral. Por isso realizar corrigir a postura de nossos alunos e incentivá-los a ter um bom padrão de movimento é fundamental na prevenção de lesões.
Vamos falar sobre os Padrões Fundamentais de Movimento
Você certamente já ouviu falar sobre os padrões fundamentais de movimento baseados no conceito do Treinamento Funcional, não é mesmo?
São eles:
Puxar;
Empurrar;
Agachar;
Avançar;
Realizamos estes padrões de movimento a todo momento no dia-a-dia em vários planos de movimento como no plano frontal, sagital ou transversal. Mas o plano em que mais realizamos movimentos é no plano transversal, utilizando as rotações e combinação de padrões e movimento.
Quantas rotações você realiza por dia?
As rotações são movimentos bastante comuns na vida diária. Ainda tem dúvidas? Veja essa lista de movimentos que envolvem rotação e realizamos praticamente o dia inteiro.
Caminhar;
Pegar um objeto ao lado ou atrás;
Olhar para o lado ou para trás;
Alcançar algo para outra pessoa.
E você prepara seu corpo para realizar estes movimentos?
Pois é, realizamos estes movimentos muitas vezes por dia, no entanto, no entanto não é raro que falte a mobilidade necessária para realizar tais atividades. Além disso, não mantemos uma boa postura durante a movimentação, e aí temos chances de lesão do disco intervertebral.
Para que um movimento seja realizado de maneira funcional e eficiente precisamos de boa preparação. Por isso a importância de acompanhar mesmo alunos sem patologias e prepara-los para se movimentar da melhor maneira possível.
Mecanismo de Lesão
Os movimentos de flexão e rotação são os movimentos que mais geram lesão do disco. Você sabe o motivo?
Primeiramente, porque certamente o individuo não apresenta um bom espaço articular intervertebral devido à má postura.
Em segundo lugar, durante a flexão as chances de o disco escorregar posteriormente são maiores devido a anatomia desta articulação.
Terceiro, que esta região de lesão provavelmente apresenta hipermobilidade ocasionando pouca estabilidade nesta articulação.
Quarto, porque a combinação de todos estes fatores irá ocasionar maior carga sobre o disco e maiores forças de compressão e cisalhamento.
Como a atividade física pode auxiliar na prevenção de lesão do Disco Intervertebral?
O principio mais importante neste caso será a centralização, ou seja, realizar o trabalho de fortalecimento da musculatura profunda do tronco que irá promover maior estabilidade as articulações, evitando a sobrecarga de músculos desnecessários e a ação de músculos tensos e/ou encurtados.
Além de fortalecer os músculos profundos do tronco gerando maior estabilidade para a coluna, é essencial que a mesma apresente também boa mobilidade e flexibilidade. Nessas situações usamos o termo mobilizar a coluna vértebra por vértebra.
Quem já escutou ou orientou esta conduta durante as aulas?
Essa ação de mobilizar a coluna vértebra por vértebra permite fortalecer os músculos intervertebrais fazendo com que eles deem uma estabilidade maior entre as vértebras, além de manter a mobilidade das articulações intervertebrais permitindo a flexibilidade da coluna.
Outro fator importante para realizar a proteção do disco é a manutenção do crescimento axial nas diversas posturas e movimentos realizados.
O crescimento axial permite maior espaço articular intervertebral reduzindo as forças de compressão e cisalhamento sobre o disco.
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