As dores musculares são habituais e normalmente se relacionam com a tensão diária, exercício físico intenso, posturas inadequadas, traumas, esforços repetitivos ou inclusive por estresse emocional.
O esperado é que tais tensões musculares sejam passageiras, mas em muitos casos acabam sendo contínuas e crônicas, ultrapassando o limite de recuperação do organismo. Esses excessos de tensão muscular podem resultar na diminuição do movimento, em nódulos no interior da musculatura e em pontos gatilhos (trigger point), dando-se a dor miofascial.
A síndrome da dor miofascial é uma afecção que acomete os músculos, fáscias, ligamentos, tecidos pericapsulares, tendões e bursas; principalmente na região cervical, cintura escapular e lombar. Tem uma relação estreita com a disfunção temporomandibular. É comum em mulheres na faixa etária dos 30 a 50 anos, sobretudo as sedentárias, coincidindo com o auge de sua atividade produtiva.
Para diagnosticar e tratar a dor miofascial é importante identificar o(s) ponto(s) gatilho. Trata-se de um ponto palpável hiper-irritado no músculo esquelético associado a um nódulo sensível, que pode produzir dor à distância (dor referida). Normalmente, a dor referida se relaciona com o grupo muscular afetado e segue o padrão de inervação medular segmentar.
Os pontos gatilhos podem ser ativos ou latentes. O ponto latente é mais comum, reconhecido pelo paciente apenas quando estimulados, induzem à limitação de movimentos, fraqueza do músculo em questão e predispõe à crises de dores agudas. Já o ponto gatilho ativo a dor referida pode se manifestar sem dígito de pressão, podendo durar alguns segundos, horas ou dias. Caracteriza-se por ser uma dor profunda, dolorida, de queimação ou às vezes superficial. Quando o ponto gatilho é ativo e latente causa disfunção e incapacidade.
Devido ao ponto gatilho a função muscular é prejudicada, já que a banda de tensão restringe seu alongamento. Ainda, esse ponto irritado determina a diminuição da coordenação motora devido aos distúrbios de excitação e condução nervosa dos motoneurônios, vetando a sincronia da contração dos músculos sinergistas. A fraqueza muscular também se relaciona com a inibição neural central que inibe a atividade muscular local, ainda que não demonstre hipotrofia.
O surgimento do quadro doloroso normalmente se relaciona com mecanismos recentes ou remotos, como fadiga e estresse, distúrbios emocionais, sobrecarga aguda, disfunções articular, traumas, radiculopatias, assimetria esquelética, alterações posturais, maus hábitos de vida e sedentarismo. Ainda, se mostram mantenedores desta síndrome, o tônus simpático aumentado, insuficiências metabólicas e endócrinas, vitamínicas e de minerais, distúrbios do sono, alergias, doenças viscerais, infecções virais ou bacterianas ou inclusive por outro ponto gatilho.
Acredita-se que esses desencadeantes estimulam a medula espinhal determinando uma resposta motora muscular de contratura surgindo o ponto gatilho, sobretudo pela reverberação desse estímulo e resposta. As dores referidas, bem como sua cronicidade seguem o mesmo estímulo direto.
Há teorias que defende outras hipóteses como causa desses pontos gatilho. Destacam a teoria da crise energética e a teoria dos botões sinápticos disfuncionais. A primeira defende que há liberação de cálcio pela ruptura do retículo sarcoplasmático, conduzindo a uma contração muscular sustentada quando em contato com as proteínas contráteis. A segunda teoria acredita que por algum motivo os botões sinápticos libera catecolaminas em excesso, despolarizando a membrana pós-sináptica, resultando na contração local sustentada. Estas duas teorias são consideradas a hipótese de que a circulação sanguínea estaria deficitária, já que no estado normal reverteriam os processos citados.
Vale destacar alguns fenômenos autonômicos de associação à síndrome, tais como vasoconstrição localizada, sudorese, lacrimejamento, salivação e piloereção. Relações com o ponto gatilho destaca-se as alterações proprioceptivas como desequilíbrio, tonturas, percepção alterada do peso carregado. Além de zumbido e dor no ouvido, sintomas oculares, vertigem, enxaqueca, a cefaléia tensional, disfunções temporomandibular, cervicalgias, lombalgias, dor pélvica e nos ombros, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, lesões pós traumáticas. Ainda, é importante citar processos de envelhecimento como a degeneração estrutural dos ossos, articulações e flexibilidade miofascial, que também estão em conjunto com a síndrome.
O diagnóstico é clínico e depende de uma anamnese minuciosa e de exame físico detalhado para identificar os pontos gatilho ativos e latentes bem como a dor referida. Ainda não existe exames estabelecidos como padrão ouro para a avaliação da síndrome dolorosa miofascial, tão pouco há evidências científicas que sustentem o uso da termografia ou ultrassonografia para o diagnóstico da mesma. Assim, também se trabalha com o diagnóstico por exclusão.
Uma vez identificado os pontos gatilhos é possível utilizar técnicas para desativá-los. As terapias manuais, osteopáticas e alongamentos costumam auxiliar. A compressão isquêmica até a eliminação do ponto mostra-se eficaz, porém dolorida. Ainda, existem procedimentos mais invasivos como acupuntura, agulhamento e infiltração de toda a banda tensa do músculo afetado até o tendão.
O sucesso do tratamento também se relaciona com o exercício físico, que além do condicionamento físico, ainda proporciona benefícios psicológicos, bem estar e socialização.
O PILATES se mostra muito eficaz nos quadros de dores miofasciais, pois além de aliviar os sintomas, as causas mais comuns que conduzem à síndrome também estarão sendo tratadas; uma vez que o método se embasa na respiração controlada, consciência corporal e condicionamento postural.
Através de exercícios direcionados, específicos e individualizados é possível aprimorar a força, resistência à fadiga, a atividade mecânica dos músculos restabelecendo e expansão e comprimento isométrico dos músculos e tecidos superficiais. Além disso, a amplitude articular e a flexibilidade são otimizadas, ajudando a romper as contraturas dos sarcômeros envolvidos.
O ideal seria a incorporação do Pilates direcionado (incluindo alongamentos) com técnicas de terapias manuais (massagem tecidual), técnicas de liberações ou inativações miofasciais, como as massagens transversas profundas e zona reflexa, seguidas de contrações isométricas visando o trofismo muscular. Ou ainda, as ténicas Shiatsu, Rolfing, John Barnes, miofasciterapia, entre outras. Existem relatos de auxílio ao tratamento e prevenção do quadro doloroso quando se insere exercício aeróbio à rotina do paciente.
Vale ressaltar que a colaboração do paciente, através da educação e responsabilidade, além da parceria com a equipe multidisciplinar é primordial para tratar, identificar e modificar as causas, uma vez que o problema se relaciona com aspectos biopsicossociais do paciente.
Fonte: Flexus Pilates
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