EQUILÍBRIO PÉLVICO
O homem passou por uma grande evolução física e biológica para chegar ao que é hoje. Foram quatro milhões de anos nesse processo.
A evolução do homem
Ele se distanciou do macaco com o desenvolvimento do cérebro e, consequentemente, com as aptidões neurais e motoras. O cérebro cresceu e, com isso, a caixa craniana também aumentou de tamanho. Assim, a bacia teve de se adaptar aos novos diâmetros da cabeça. O novo formato da bacia determinou uma nova postura para o homem e novas curvaturas para a coluna vertebral. Com a evolução e o desenvolvimento, o homem passou da posição quadrúpede para bípede, a bacia ficou mais larga, passou a receber mais carga do nosso tronco e isso fez com que os músculos posteriores do quadril e das costas se desenvolvessem com mais força e volume.
Nova postura do homem
Quando os homininaes andavam de quatro pés, os músculos do quadril eram finos, longos e não suportavam grandes cargas. Eles contribuíam para o movimento e deslocamentos nas árvores e muito pouco para estabilizar o tronco. Trazendo essas transformações ósseas, musculares e biomecânicas (mecânica do movimento humano) para os dias atuais, devemos ter a consciência do que seja uma boa postura e um bom equilíbrio do nosso corpo. A palavra equilíbrio é muito bem empregada nesse contexto, pois, quando temos uma má postura, seja em pé ou sentado, significa que estamos desequilibrados. Para toda falta de equilíbrio, será necessário um esforço maior dos nossos músculos para nos mantermos estabilizados.postura errada ao sentar
Esse maior gasto energético e excesso de trabalho dos nossos músculos irão gerar compressões nos nossos ossos e articulações, causando, assim, lesões e dores. A pergunta que fazemos é: será que estamos andando em uma corda bamba e não sabemos? Por milhões de anos, o homem evoluiu sua postura e, a partir do momento que a nossa estrutura óssea parou de evoluir, adquirimos curvaturas e posturas que nos protegem durante a vida. Porém, com a tecnologia e a modernidade, os nossos gestos corporais e posturais mudaram de maneira radical nos últimos 50 anos. O automatismo, a internet, as especificidades profissionais e muitos outros fatores fizeram com que as pessoas ficassem mais paradas. Cada vez mais, trabalhamos realizando tarefas pontuais, de movimentos repetitivos e de pouca variação. Estamos nos movimentando menos.
Falamos com o mundo a qualquer momento sem dar um só passo. Podemos ficar em casa com um celular na mão para resolver todos os problemas de casa ou do trabalho, existe controle remoto para tudo e carro automático não é mais objeto de luxo. Estamos parados literalmente. Se a geração dos anos 1950 fizer uma analogia com os dias atuais, perceberá como essas mudanças foram radicais e como estamos estáticos. Até o homem do campo trocou o cavalo por uma moto. Ficar sentado é a palavra de ordem, ou melhor, a postura de ordem.
Economizando os músculos durante a posição sentada ou em pé
A posição sentada é, sem dúvida, um grande vilão para a humanidade e para as alterações dos ângulos do quadril e da coluna. Os estudos comprovam que as alterações desses ângulos são os principais causadores de dores, de lesões degenerativas e, consequentemente, de cirurgias na coluna vertebral.
No momento em que conseguimos nos manter em uma boa postura, ou seja, o nosso corpo não está para frente nem para trás nem para os lados. Isso significa que estamos bem posicionados no espaço e os nossos músculos estão trabalhando muito pouco, economizando energia. Essa economia muscular e articular é o que podemos chamar de equilíbrio pélvico, equilíbrio do nosso corpo. Mostraremos, neste capítulo e no capítulo das posturas do dia a dia, a importância da boa postura em pé ou sentado para a saúde e o bem-estar da coluna vertebral.
Muitas pesquisas têm mostrado a importância do equilíbrio pélvico, principalmente quando observamos o homem de perfil. O posicionamento do quadril tem uma influência significativa em toda a postura da coluna vertebral. Os estudos comprovaram que, quanto mais próximo o indivíduo estiver da faixa de normalidade do equilíbrio pélvico, os músculos trabalharão com menor esforço. Menor tensão irá acontecer, haverá menor compressão nos discos e menor gasto energético. Costumamos falar para os pacientes que normalmente têm esse desequilíbrio postural, principalmente os que têm o tronco projetado um pouco mais para frente, que não adianta tratar apenas a dor ou melhorar os movimentos específicos da coluna. O mais importante é manter a coluna alinhada.
Esse alinhamento é fácil de se constatar, basta apenas fazer uma foto de perfil e verificar se o seu tronco está projetado para frente. Você poderá usar também um fio de prumo partindo do ouvido e verificar se ele passa pela linha média do ombro, no trocânter maior do fêmur, joelho e tornozelo. É importante que os profissionais de saúde e os pacientes entendam a importância e a necessidade da correção desses alinhamentos. A permanência de um tronco projetado para frente, ou seja, fora da linha de gravidade, é ter a certeza de que os pacientes não irão melhorar e os episódios de dor irão voltar.
Pesquisadores procuram, cada vez mais, comprovar que os ângulos existentes na coluna e na bacia são de grande relevância para o entendimento das lesões e das dores nas costas. Encontrar o melhor equilíbrio da bacia e da coluna é a saída para esse mal que persegue a humanidade. Para um melhor entendimento do nosso equilíbrio e da nossa postura, é importante sabermos como funcionam os músculos das costas e do quadril nesse contexto. A musculatura é a parte do nosso corpo que promove movimentos, proteção e estabilidade. Temos dois tipos de músculos que mantêm a nossa postura. O primeiro grupo são os mais profundos ou posturais. Como o nome diz, são mais internos, ficam próximos à coluna vertebral, são menores, têm funções específicas, auxiliam poucos movimentos e suportam nossas cargas e “abusos” com mais facilidade.
Eles economizam o trabalho do segundo grupo, que são os músculos externos, também chamados de dinâmicos. As características fisiológicas das fibras musculares dos músculos profundos são de grande resistência. Por isso, eles protegem e estabilizam a nossa coluna com mais facilidade.
Conhecer a coluna para prevenir e tratar patologias
É importante frisar que outros fatores ou alterações mecânicas (como artrose no quadril, artrose no joelho, uma perna maior que a outra, pés com deformidades, fraturas nos membros inferiores etc.) também poderão comprometer o equilíbrio da coluna vertebral. Mais uma vez fica claro que dar atenção ao paciente, ouvir tudo o que ele tem para nos contar sobre suas lesões do passado e dores atuais, além de fazer um questionário pertinente às nossas buscas clínicas serão a chave para um bom tratamento e para orientações precisas.
Uma das saídas para um programa preventivo de lesões degenerativa da coluna é encontrarmos as alterações da bacia e da coluna vertebral nas crianças e realizarmos tratamentos posturais que possam restabelecer as curvaturas normais e o melhor equilíbrio pélvico-lombar. Nos dias atuais, as crianças estão ficando mais tempo paradas e sentadas. Podemos estar passando por transformações sem notarmos. Os ângulos que determinam nossa postura podem estar se alterando e a população deve ser esclarecida para se envolver nesse processo.
Também propomos uma escala de aprendizado para a população sobre o programa qualitativo de fortalecimento dos músculos profundos da coluna vertebral associado ao fortalecimento dos glúteos médio e máximo e de todo o complexo do quadril. O mais importante é que pacientes e profissionais tenham consciência desses ângulos e posturas, que busquem esse ponto de equilíbrio. Ele é o ponto de partida para os tratamentos e principalmente para a prevenção das lesões degenerativas. Nós, profissionais, devemos com urgência realizarmos ações nesse sentido. Só assim poderemos tratar de forma mais definitiva essas lesões assim como preveni-las.
Com o entendimento da nossa postura e das possíveis lesões, fica claro também que a fisioterapia é mais ampla e complexa – diferente dos que pensam que reabilitar coluna é simplesmente infiltrar, estalar as costas e dizer que “colocou a coluna no lugar”, colocar o paciente em algum aparelho e pronto! Entender a doença, os sintomas, o mecanismo da dor e o paciente é fundamental para traçar um plano individual de tratamento. Uma vez que o paciente foi diagnosticado com alguma discopatia degenerativa, cabe ao fisioterapeuta definir o critério de escolha do tratamento. Essa triagem vai compreender aproximadamente oito condutas fisioterapêuticas que poderão ser usadas isoladamente ou em conjunto. Desse modo, fica claro que aquela fisioterapia que é feita igual para todo mundo dificilmente vai funcionar.
Fonte: ITC Vertebral
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